quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

E como quem entra sem bater...

Ele entrou, pensei que ia ficar. Mas, logo se despediu!

Tenho que ir, porém, antes vou deixar algumas palavras soltas, meio bobas.
Mas, coisas bobas são boas. Observei. Apenas não há céu para os idiotas!
Um disparate: Não quero ir pro céu.

Ele questiona:
- Para onde você quer ir?
Sem você será chato e triste. Só vou pro céu se você for!
Minha alma revira, exponho:

- Pra qualquer lugar onde tenha samba...

Onde tenha música alta.
Quero Batuque.
Quero Axé!
No céu todo mundo igual, o mesmo louvor, com o cabelo no lugar.
Quero cores, sabores. Deixa o céu pra quem briga pela vaga.
Vamos pro samba, pro Rock!
Pro céu não vou mesmo. Quero não!
Todo mundo de branco, falando baixinho.
Quero carnavalizar.
Quero maracatu!

Ele me interrompe, antes que suas palavras corressem entre palavras.

- Queria ter te conhecido antes, muito antes.
 ...
Pra que nenhum de nós tivéssemos pudores ou cicatrizes...
Queria ter estado com você quando seu coração descobriu o que era amor:
Quando seu corpo descobriu o que era desejo. E antes que pudesse sofrer eu estaria do seu lado.
Juntos teríamos aprendido os ensinos da vida, do coração.
Quando suas esperanças começaram a nascer!
Quando seus sonhos ainda eram puros e seus ideais ainda ingênuos.
Pena termos nos encontrado só agora, Já com os corações viciados em outros amores.
Com uma imagem meio falsa do que é felicidade.

Um beijo de boa noite.

Eu que falava sem parar...

Fiquei sem palavras, mas com todas elas.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um conto, como um canto!


Uma densa chuva cai lá fora...

E assim como a água que corre para os bueiros, minhas palavras chegam até ela.

Teu corpo.
Teus cabelos.
Tua luz.

Forte luz que faz estremecer todos os meus instintos e não querer mais nada, alem daqueles lábios nos meus.

Saliva.
Suor.
Cerveja.
Pele macia, cheiro de flor!
O rebolado.
O rosto de porcelana.
...

As costas que carrega o peso do mundo e por fim o coração lindo. Que palpita sem parar pelo que a alma anseia pelo que satisfaz.
Muito mais do que gemidos e sussurros ao pé do ouvido que me enchem de tesão, preciso do sentimento de quem sabe o que quer.
A chuva corre, carrega consigo todo o desejo que posso suportar. Tão pouco e úmido, mas agora, somente dela.

Na minha cama.
Na minha língua.
No meu colo.

E nesse bar...

(Mariana.)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Colore minha vida!

Tentando {re}colorir tudo.

Mas levaram minhas tintas.

– A moça diz que lhe falta os pinceis.
E à vida é mesmo assim:
proporciona e arrasta!




"Só ficou a preta e a branca aqui, as vezes eu acho um pouco de marrom...
Nada de azul, verde, rosa ou amarelo.”

Diz a moça.

Saudade de tuas cores pra enfeitar minha vida.
Tuas cores suaves da tranqüilidade.

Dos tons da aquarela.
Do teu azul-sorriso que se misturava com meu amarelo.
Se fez feliz num clarear de verde-tão-alegre!!!
Mudávamos as nuances como brincadeira entre um abraço e outro. Guardávamos as mais fortes para misturar com o branco, que logo se desfazia.
Doce ilusão. Acorda... Branco é branco menina!
E hoje quem escreve é Vanessa mesmo.

A flor tatuada carrega algumas feridas abertas, sem forças pra chegar até aqui!

"Eu grito mudo, mas continuo gritando"

- Diz a moça.
(A moça que também sente)

Só sei que dói.
Sinto que algo foi arrancado/desbotado, ou de fato não levaram nada?
Porque nada realmente é nosso!

Quem sabe um empréstimo da felicidade...

(O preto e branco desbotaram)

Acabou o tempo!

(Vanessa Soares / Gracianny Bittencourt – A moça)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Meu coração...



Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com-cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi:

Meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.

Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traça, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.

Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável.Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.

Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.

Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.

Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças na janela, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se p6os. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.

Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada.

Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone". Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.

Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Meu coração é um deserto nuclear varrido por ventos radiativos.

Meu coração é um cálice de cristal puríssimo transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos, ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.

Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome. Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheia de gemidos - ai de mim! ai, ai de mim!

Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também.Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa do Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando pra lua, ruína, simulacro, varinha de incenso.

Acesa, aceso - vasto, vivo: meu CORAÇÃO é TEU...

(Caio Fernado Abreu)

domingo, 14 de junho de 2009

"-Mas vai passar menino"

Sempre ouço isso quando exponho uma dor, e realmente sempre passa!
Entanto, o que fazer com a dor do caminho que fica entre o "-Vai passar"?
E a cicatriz deixada?
(nessa posso fazer uma tatuagem pra mascarar)
 Não, não te daria minha dor. São somente lamurias no caminho.
Num turbilhão de pensamentos o sono se foi pela janela.
Os dias seguem lentamente e você não acha uma solução, mas vê uma frase de alto-ajuda:
“- No fim tudo acaba bem!”
(PS: Esperar esse fim é sempre mais fácil na frase)
Sabe quando o armário está desarrumado, a vida está desarrumada, seu cabelo tá desarrumado e você nem sabe por onde começar?
Quando só um abraço conforta?
(mas quem poderia te confortar também busca conforto)
Você deseja ter 15 anos, ter a adolescência como álibi e só se preocupar em combinar com suas amigas: Em que festa e com qual roupa?
Sabe quando o grito fica preso na garganta. Você grita por dentro e a garganta até dói.
Dá vontade de chorar e de sair correndo pro "esconderijo predileto".
(mas ele ficou nos tempos de menina)
E agora é palavra de mulher!
Encarar os fatos...
Mais que existir, viver.
Sobreviver!



"...não tenha medo, vai passar. Não tenha medo, menino. Você vai encontrar um jeito certo, embora não exista o jeito certo. Mas você vai encontrar o seu jeito, e é ele que importa. Se você souber segurar, pode até ser bonito".
                                                                        (Caio F.)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Questionário perdido

Informações para o(a) participante voluntário(a)Você está convidado(a) a responder este questionário anônimo que faz parte da coleta de dados da pesquisa “Sem norte"
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1. Sim, sempre fui assim. (x )

2. Não, nunca fui assim. (x )

Mudei sem perceber,

Oscilando doce-amargo, doce...

Amargo, o tempo entranhado na pele,

tomando conta do que era terreno alheio.

Hoje, sou propriedade da nostalgia.

(Talvez se o acalanto tivesse chegado primeiro...!).

As linhas do rosto, distorcidas,

já não contam história alguma.

10.Perderam-se as memórias,( )

perdeu-se a saudade e o sentimento,

perdeu-se o ego.

Nem mesmo lembro meu nome,

(Você que ta lendo sabe?)

15.Quem sabe algo com o mesmo som que Amélie Poulain. ( )

Sobrevive apenas a lágrima,

a um canto,

(Esperando um lenço amigo)

ritmada pelas horas que escorrem pelo vidro, chovendo.

Chovo em mim.

Não sei.

Alguém sabe, mas não diz.

(Nunca diz).

22.Agradeço a mão que me levanta do chão.( )

(Eu sabia que tinha de me ter levantado sozinha...!)

Tombo novamente.

25. Sim, sempre fui assim. ( )

26. Nao, nunca fui assim. ( )

Não sei.(x)

sábado, 7 de março de 2009

Foto: by Isadora.
Os versos estão guardados em segredo,
Na camada fria de um olhar de medo.
Eu nem sequer percebo
Que já me fogem pelos dedos,
Não me dou por mim.
Simplesmente assim:
Como uma noite escura a brilhar no fim.
Segredos que se perdem,
Mas ao raiar do sol, aparecem.
E vendo o meu rosto no espelho,
Busco um sentimento que me eleve.
Pequeno poeta das horas vadias,
Buscando se lançar aos caprichos da agonia,
De ser noite ou de ser dia,E ao mesmo tempo se manter ileso,
Aos reveses da magia que é a poesia.
(A flor tatuada / Paulo Vitor)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Jardim confidente



Vem sentar-te comigo em meu sonho, à beira do teu jardim.
Sossegadamente fitemos suas cores e aprendamos que cada uma contempla a vida ofertando luz e escuridão. (Me empreste teus olhos pra eu sentir como você).

Depois pensemos que a vida passa e que cada dia tem sua cor, cada olhar tem sua cor.

Que o branco sempre se perde no preto, e com o raiar do sol, faz-se branco outra vez! Fechemos os olhos por um momento, porque não vale à pena desbotar as cores.
Mas vale saber pensar silenciosamente... Sem martírios grandes.

Pensemos em todas as cores, e o branco logo as devorarão.

E de tudo sobrará apenas dois, no vácuo, sem saber onde termina uma ficção e onde começa uma remota realidade. Mas agora já não importa o que é, afinal no jardim minhas mentiras viram verdades.

O que são minhas verdades?
 E onde estão minhas mentiras?



(A flor tatuada)